Sou

A minha foto
Portalegre, Portugal
"Sonho que sou alguém cá neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a Terra anda curvada! E quando mais no céu eu vou sonhando, E quanto mais no alto ando voando, Acordo do meu sonho...E não sou nada!..." Florbela Espanca

quarta-feira, 30 de março de 2011

Cidade nua

Foto de Fernando Batista
http://olhares.aeiou.pt/febat
http://www.fbatistaphoto.smugmug.com/



A cidade continua nua
As suas vestes rasgaram-se com o rigor dos invernos
E os pedaços de trapo que sobraram desfizeram-se
Sob o ácido do sol nos dias quentes de verão.
Procuro ainda marcas da Primavera que gravavas em cada rua
Mas nada sobejou.
As estátuas permanecem sem vida
à espera do calor do teu olhar...
Nesta cidade me perco
Apenas sentindo o seco estalido
Das folhas que meus pés errantes pisam sem ouvir.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Na noite...

Foto de Leninhaf
http://leninhaf1.reflexosonline.com/
http://olhares.aeiou.pt/leninhafig





Espirais de fumo que se evolam no ar
como medos desfeitos na pressa de ousar.
Entranha-se o cheiro
Na pele, no cabelo
Depurando a alma, num subtil desvelo.
É este o ritual que me chama até ti
É este o sinal que também a tristeza sorri.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Quod facis, fac citius


Foto de Fernando Batista
http://olhares.aeiou.pt/febat
http://www.fbatistaphoto.smugmug.com/


Na hora em que as bocas se unem
No minuto em que as línguas se tocam
O coração pára por um segundo.
Estranhas as sensações sempre novas e sumarentas
Que me invadem numa inaudível explosão.
Os teus olhos têm o brilho de pólvora
E é neles que me perco por tempo indefinido
Até que o rastilho preso entre os teus dedos
De novo se acenda
E o mundo se desfaça
em estilhaços de dor e prazer.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Porque escrevo?

Foto de Fernando Batista
http://www.fbatistaphoto.smugmug.com/
http://olhares.aeiou.pt/febat




Escrevo para expurgar fantasmas
Para matar o medo
e rasgar a dor.

Escrevo para esventrar a saudade
Dissecar o desejo
e enaltecer o amor.

Escrevo para renovar sonhos
Acordar a esperança
e quebrar a solidão.


Escrevo para me depurar
Para acalmar a alma
e pintá-la de novas cores.

Escrevo por mim e para ti!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sob a noite

Foto de Leninhaf
http://olhares.aeiou.pt/leninhafig
http://leninhaf1.reflexosonline.com/


Guardo sob a noite, suas lembranças.
Doces, e tanto,
que me afloram, sonhos, amores,
entre noites...



As estrelas são testemunhas
desta recordação que me invade.
Pois minhas lágrimas atingem-nas
emprestando brilho à luz que delas emana.
E assim permaneço...
Num doce embalo de suspiros
a que só posso chamar saudade.



Pudesse ora, fugir.
Mas tua imagem é forte,
perturba-me, roda sobre a cabeça.
Nem que precise rasgar o tempo,
e fazê-lo retroceder
Apenas para lhe dar um beijo,
Num ensolarado entardecer...




Sandra Subtil e Helio Rocca

terça-feira, 15 de março de 2011

Rumo aos sentidos

Foto de Leninhaf
http://olhares.aeiou.pt/leninhafig
http://leninhaf1.reflexosonline.com/



Caminho trôpega por trilhos agrestes
Na ânsia de chegar
Onde nenhum pássaro ainda ousou fazer ninho.
É esse o meu lugar!
E eu que não tenho bússola
Eu que sou arrastada pela monção
Não desisto.

Vejo o amor a nascente
Pressinto o prazer no ocaso
Mas a paz...

Ah! A paz.
Essa está para além de qualquer direcção
e nenhum mapa a tem assinalada.
Contudo
é ela o meu Norte.

domingo, 13 de março de 2011

Cabra- cega




-Cabra-cega
Cabra-cega
De onde vens?

-Venho do fim do mundo
Onde não chega a luz,
Só a dor!

- Cabra-cega
Cabra -cega
Trazes pão e canela?

-Trago a fome entranhada nas retinas
E o cheiro fétido de corpos moribundos entrosado na minha alma.

-Cabra-cega
Cabra-cega
Quantas voltas te vou dar?

-O meu corpo ainda balança
Na náusea da revolta.
Uma volta que dês
Far-me-á regurgitar o sangue que vi derramar.

- Mas, cabra-cega...
Assim não poderás jogar...

-Pois não. E a culpada és tu, puta de vida!




(Imagem retirada da net)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Nós

Foto de Leninhaf
http://olhares.aeiou.pt/leninhafig
http://leninhaf1.reflexosonline.com/




Dissipa os nós que na garganta me arranham
Para que soltas as palavras possam brotar.
Despedaça os nós que nas falanges me ferem
Para que minhas mãos voem no céu do teu corpo.
Destrói os nós da dura madeira de que sou feita
Para que a seiva possa sem obstáculos escorrer.
Desfaz os nós que me amarram ao cais
e deixa-me ir ao sabor da maré.
Mas nunca, por nada
Dissolvas o Tu e o Eu.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Fragilidades




Já não sou a leoa feroz
Que rugia alto e selvagem
Hoje sou gata mansa
Que ronrona baixinho, num sopro.

Já não sou rosa silvestre
Que desbravava o mato espalhando seu aroma
Hoje apenas sou espinho
Seco, duro e traiçoeiro.

Já não sou fogo incandescente
Que inflamava tudo em redor
Hoje sou cinza arrefecida
Poeirenta, inútil e só.

Já não sou a dominadora
Que comandava todas as batalhas
Hoje levanto a bandeira branca
e procuro sempre o último lugar da fila.

Já não sou o rochedo sólido
Imune até à erosão
Hoje sou grão de areia
Que incomoda no sapato.

Já não sou a actriz principal
Que abraçava o palco e recebia aplausos
Hoje sou marioneta esquecida
À espera que me dêem vida.

Vês como tudo se transforma?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Pauta Imperfeita



Foto de Fernando Batista





Vi-os por acaso!
Olhava melancólica o horizonte
Pensando no que a vida me roubava.
Tantas coisas por fazer
...E o tempo cada vez mais voraz,
Galgando as fronteiras do limite
e prendendo-me as mãos.

De repente, vi a mancha negra!

Confesso-te que me assustou.
era quase um presságio de morte anunciada.
O seu movimento era compassado
mais que isso tresloucado!
Como miúdos travessos
Num jogo de futebol imaginário.
Iam e vinham numa viagem precisa
Entre sucessões coerentes de sons e silêncios.
Recordei-me quando me dizias:

" Vou compor para ti a mais bela melodia!"

E o bando aproximou-se.
Em frente de mim estagnou.
Cada alma de pássaro se instalou como por magia
Transformando-se em notas pontuadas numa pauta imperfeita
Que defronte da janela havia.
A melodia começou.
Pianíssimo.

Senti-te outra vez dentro de mim.
Afinal mesmo definhando no leito
A promessa fora cumprida.
Tenho a certeza:

Era tua e só para mim aquela invulgar sinfonia.