Perdão a ti, mulher.
Nunca consegui ver o desespero que morava nos teus olhos.
Nunca fui capaz de ver o cansaço que crescia no teu corpo cada vez que
chegavas tarde a casa e ainda assim sorrias para as crianças, as
acarinhavas e ouvias com todo o amor que só uma mãe é capaz de
(re)inventar.
Perdão a ti, mulher cansada.
Tantas as horas de trabalho e ainda tantas por arder na labuta do lar:
lavavas, cozinhavas, limpavas, recolhias a roupa que dormia e gelava à
lua e eu não soube ver a angústia que te assolava e consumia. Nem para
ti olhava nesse vaivém de carregar compras para que nada nos faltasse.
Perdão a ti, mulher solitária que na azáfama da vida adormecias o cansaço e embalavas a tristeza de te saberes só.
Os meus braços nunca se abriram para te receber.
A minha boca nunca aquecia os teus lábios sequiosos de carinho.
Os meus olhos nunca te agradeceram o sacrifício que fazias pelos que também são meus.
A inércia tomou conta de mim porque sabia que nada me faltaria pois tu
estavas ali, mulher cansada, desesperada, solitária, porém mulher.
Perdão a ti, mulher minha que agora vais descansar o teu corpo dorido de falta de amor.
É tarde, eu sei, mas ainda assim deixa-me pedir-te perdão. Por tudo o que não fui e que não soube dar-te.
Descansa em paz, Super Mulher.
Sou
- Sandra Subtil
- Portalegre, Portugal
- "Sonho que sou alguém cá neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a Terra anda curvada! E quando mais no céu eu vou sonhando, E quanto mais no alto ando voando, Acordo do meu sonho...E não sou nada!..." Florbela Espanca
sábado, 12 de novembro de 2016
domingo, 16 de outubro de 2016
Haverá um dia...
Foto de
E a espuma apenas espuma, beijando a areia da praia.
Mas hoje, não!
Hoje o mar é a minha dor,
é a minha revolta,
o meu desencanto.
O marulhar é meu desespero
e a espuma minha esperança
que morre ao tocar a terra.
Haverá um dia
em que tudo será apenas aquilo que é,
mas hoje, não.
Sandra Subtil
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Essa mágoa fez-te mulher...
As lágrimas que sulcaram a tua pele e a lavraram com a aspereza do sal ganham hoje novo sentido.
Essa mágoa, que te apertou o peito e espremeu as entranhas, alimentou a tua luta.
Agarraste com nobreza os pedaços destruídos
e com a delicadeza das flores colaste uma a uma cada peça que restou.
Foste mais forte.
Ouviste a voz da resiliência e venceste.
Essa mágoa fez-te mulher.
Sandra Subtil
segunda-feira, 4 de julho de 2016
Quem me dera...
Quem me dera de novo
Aquele abraço apertado.
O calor no peito
Coração descompassado.
Quem me dera de novo
Teus dedos no meu cabelo
Ternas blandícias
No mais doce apelo.
Quem me dera de novo
Pele na pele,
num toque ardente
Palavras suspensas
Entre os beijos da gente.
Quem dera de novo
O mundo na mão
Olhar reluzente
O corpo em paixão.
Hoje nada resta
Só lembrança do que foi
E este querer no sangue
que no mais fundo de mim dói.
Aquele abraço apertado.
O calor no peito
Coração descompassado.
Quem me dera de novo
Teus dedos no meu cabelo
Ternas blandícias
No mais doce apelo.
Quem me dera de novo
Pele na pele,
num toque ardente
Palavras suspensas
Entre os beijos da gente.
Quem dera de novo
O mundo na mão
Olhar reluzente
O corpo em paixão.
Hoje nada resta
Só lembrança do que foi
E este querer no sangue
que no mais fundo de mim dói.
quarta-feira, 18 de maio de 2016
Houve um tempo...
Houve um tempo em que me olhavas nos olhos, mergulhavas no verde água e navegavas pelo meu ser até ao mais fundo de mim.
As tuas mãos desviavam suavemente os caracóis negros que insistiam em cobrir-me o rosto e com firmeza prendias as minhas faces e sussurravas nos meus lábios: " És linda! "
Houve um tempo em que percorrias com delicadeza os sinais do meu corpo, esses que te conduziam pelo trilho (in) certo da paixão. Em cada um depositavas o sal do teu beijo e esse condimento temperava o nosso amor.
Houve um tempo em que a fome e a sede não existiam no nosso mundo porque o que tínhamos nos alimentava, saciava e bastava.
Colávamos pele com pele e era tanto o sentir, era tanto o querer que nem sabíamos onde terminava um e começava o outro.
Hoje, olho para trás e não nos reconheço.
Quando foi que nos perdemos?
Sandra Subtil
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Foram cravos, foi poesia
Foram cravos, amor
Foram rubros os cravos
Que nos teus olhos nasceram
E nos teus braços se aninharam
Que os teus medos venceram
E a censura derrubaram.
Naquela clara manhã
O cinzento se dissipou
E no corpo,
Nos olhos,
Nos lábios
Nova cor emergiu.
E o povo na rua cantou
E o povo na rua sorriu.
Sandra Subtil
sábado, 16 de abril de 2016
Preciso acreditar...
Arranca-me do peito esta dor,
este aperto,
este desassossego.
Deixa-me aninhar-me em teu colo
Voltar aos dias em que nada sabia da vida
Em que nada sabia do que é sofrer.
Passa-me a mão pelo cabelo
Canta-me uma canção de embalar.
Manda o papão embora
Para eu poder descansar.
Diz baixinho:
" Tudo vai dar certo".
Diz.
segunda-feira, 28 de março de 2016
Amor...
Da janela vejo a lua
Da janela vejo o mar.
Da janela vejo o mundo
Vejo a vida a passar.
Na janela tenho rosas
Tenho cravos e jasmins.
Tenho o perfume das flores
Tenho as cores dos jardins.
Na janela pousam aves
Borboletas multicores.
Segredos, mentiras, verdades
Na janela espero amores.
Que seria de uma casa
Que janelas não tivesse?
Que seria de uma vida
Que amor não sentisse?
Por isso abro os braços à vida
Abro as janelas de par em par.
E o sol e o amor, de mansinho
Meu coração vêm beijar.
E esse beijo dado assim
De inefável maneira
Faz nascer em mim
A emoção mais verdadeira.
Amor, amor, amor.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Pele...
Na pele a luz
Na pele o toque
Na pele o desejo
Na pele o arrepio
Na pele o prazer
Na pele o calor.
Em mim desaguas como rio
E na pele a paixão
Na pele o amor
Na pele a emoção
Na pele húmida, nua
Na minha pele, na pele tua.
Sandra Subtil
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